terça-feira, 31 de outubro de 2017

Eu, Mãe, me confesso...

Para quem tem tanto a dizer sobre cerca de 1001 assuntos pareceu meio estranho eu nunca tecer nenhum comentário ou opinião acerca do meu filho ou da maternidade! E a verdade é que nunca o fiz...fui-me desviando com uma ou outra desculpa meia esfarrapada ou com uma explicação acerca do cansaço que sentia e de ter que trabalhar e blá blá blá...tudo a mais pura das mentiras.
A verdade é que eu não fazia ideia do que dizer, não tinha palavras óbvias, não tinha prontas na boca aquelas coisas típicas que eu ouvia das mães...o que era óbvio para mim é que estava tudo errado comigo.
Eu descobri tarde que estava grávida pois ele fez o favor de se esconder a dois testes de gravidez que foram falsos negativos e de repente quando dou por tudo estou quase a meio da coisa... e sim “coisa” porque isso de estar grávida tem muito que se lhe diga. Podemos comer este mundo e o outro e tudo fica bem na cintura mas de resto a verdade é que não achei assim nada demais, e de repente ficou mesmo muito desconfortável. Que isto de a malta mal se conseguir levantar sozinha da cama, não chegar aos pés, não ter posição, andar cheia de azia e igual a um pinguim...eu cá não lhe achei grande graça.
Eis senão quando as minhas águas rebentão assim sem aviso prévio e sem fim de tempo, o pânico tomou conta de mim, não estava preparada, não estava preparada para o parto, não estava preparada para ser mãe, não queria nada daquilo e não dava para voltar atrás...
Entre isto e ele estar cá fora foram cerca de 4h30, 4h30 de tormenta mental e boca fechada e sorriso nos lábios. O que ia eu dizer ao meu marido, à minha mãe, à obstetra?, que queria voltar atrás?, sair dali a correr??
As 23h47 do dia 18 de Abril alguém me diz que eu não devo jogar no Euromilhões porque o mesmo já me saiu, o Salvador... salvou-se por pouco...tinha um nó cego no cordão, um nó verdadeiro...um quê???? E apenas 0,005 das crianças sobrevivem ou não apresentam sequelas...tinha um quê???
E sinto na minha cara algo muito quente encostada à mim “aqui está ele Susana” disse a enfermeira e não o volto a ver...só o ouço a chorar...o meu marido perdido entre a hemorragia que tentavam controlar em mim e ir com ele e os seus pequenos 2,560kg...mandei-o embora...queria estar sozinha, só entregue às mãos experimentes de quem me acudia e sentia-me tão mal. Tenho pouca lembrança deste tempo...entretanto ele volta já limpo, vestido e não o consigo ver porque estou ali deitada metade por cozer! Sem conseguir mexer nada além dos braços...
Fecham-me...limpam-me...mudam-me para a cama para subir ao quarto e pousam-mo pela primeira vez do meu lado...pára de chorar...consigo ve-lo...é tão pequenino...quero a minha mãe...Chego ao quarto e lá está ela...a minha mãe a ser mãe...só me vê a mim...”o bebé não vem para cima?” E ele ali ao meu lado...Mãe...isso é ser mãe...eu não estava a sentir nada disso...
Amamentar...odeio...as dores...odeio...o povo todo a fazer sala à minha volta...odeio...quero paz, não consigo pensar...finalmente ao terceiro dia fico sozinha...só eu e ele...em cima de mim, não consigo controlar as lágrimas, choro...o que vou fazer com ele e sem dar por isso de repente estamos em casa e sem rede TENHO UM FILHO! Passa uma semana, passa outra, o milagre não acontece! Sinto responsabilidade e pouco mais além disso...choro todas as noites escondida na casa de banho durante quase 2 meses a julgar-me a condenar-me, a ouvir um “não te vejo assim muito animada” e outro “já a trabalhar?” Que espécie de mãe sou eu, que espécie de criatura?!?! Vieram as vacinas, o pediatra, mais responsabilidade, os horários, o leite... as gotas... tudo fiz, pouco ou nada senti! 
Um dia de manhã depois de dar de mamar como já tinha feito centenas de vezes encostei o Salvador às minhas pernas dobradas e ele olhou pra mim como nunca ninguém na minha vida tinha olhado antes... “olá Pitoco da mamã” estávamos só nós dois... ele a tentar agarrar as minhas mãos e eu a olhar para a maior perfeição que Mundo alguma vez me deu! Que tinha ele? Um nó quê? Fui pesquisar... podia ter perdido o meu bebe, o meu Pitoco, o MEU FILHO...Meu... 
E do nada e do tudo ele entranhou-se em mim, em cada poro meu, em cada um dos meus suspiros, em cada movimento ou som... tão meu e eu tão dele...e cada dia que passa descubro que ainda há mais espaço no meu coração para o amar mais um bocadinho, para o querer mais um bocadinho, para o sentir mais um bocadinho..
E hoje, do outro lado do oceano, a acompanhar o meu marido a trabalho faz um ano que soube dele, que aquele palito tinha dois riscos e eu corri para casa da minha mãe com o chão a fugir-me nos pés... e recordo a primeira eco, a primeira vez que o senti mexer, tão meu... todo meu, só meu... e os meus braços anseiam por aperta-lo, o meu nariz por cheira-lo, a minha boca por beija-lo! O meu filho... tão meu e eu tão dele... e volto a chorar todas as noites na casa de banho por saudades, porque este desespero que me aperta o peito não faz sentido, está tudo bem mas quero o meu bebé, o meu Pitoco!
31 de Outubro, dia das bruxas, o dia que me enfeitiçou para toda a vida...
Obrigada vida...

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Como é???????


"...és a maior puta do mundo; pensei que tinha casado com uma mulher séria e casei com uma puta da serra; a mim nunca me deixaste ir ao cú e os outros vão todos; (...); vou-te tirar a casa e no fim mato-te; tenho uma lista de pessoas aquém vou limpar o sebo) em primeiro lugar a ti e és uma mulher morta ".

Extraordinária decisão do TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO que, julgando em recurso um caso de crime de violência doméstica, invoca na argumentação a Bíblia, preceitos da Sharia e o Código Penal de 1886.
Talvez seja altura de oferecer aos Srs Desembargadores um exemplar da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, de 1976, e lembrar-lhes que em Portugal existe hoje um sistema democrático que legal e politicamente torna insustentável a argumentação anacrónica e inconstitucional que utilizam para justificar a sua decisão.

Extraordinário 'pormaior' do caso: marido traído e amante abandonado concertam-se entre si para agredir a mulher que foi 'de ambos'. Esta história parece inventada, mas foi dada como provada em tribunal.
«Acordam, em conferência, na 1.a Secção (Criminal) do Tribunal da Relação do Porto:
«(…) Este caso está longe de ter a gravidade com que, geralmente, se apresentam os casos de maus tratos no quadro da violência doméstica. Por outro lado, a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente. Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte. Ainda não foi há muito tempo que a lei penal (Código Penal de 1886, artigo 372º) punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando sua mulher em adultério, nesse acto a matasse.
Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher. Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o acto de agressão, como bem se considerou na sentença recorrida.
Por isso, pela acentuada diminuição da culpa e pelo arrependimento genuíno, podia ter sido ponderada uma atenuação especial da pena para o arguido X. As penas mostram-se ajustadas, na sua fixação, o tribunal respeitou os critérios legais e não há razão para temer a frustração das expectativas comunitárias na validade das normas violadas
(…)»
Processo n.° 355/15.2 GAFLG.P1
Recurso penal Relator: Neto de Moura "

E nenhum juizinho, ainda que fosse da comarca da cochinchina, diz nadinha não? Nem ninguém faz nada a este santinho...
Tá certo...
Caro Sr.Juiz, com todo o respeito...Vá à grande meretriz que o pôs no Mundo, não vá eu dizer um palavrão e acabar apedrejada!

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Terapia Sexual não é Tabu!


Ontem pediram-me que falasse sobre a terapia sexual no blog, pois, ao que parece o assunto continua a ser tabu...na realidade não parece só! Em pleno século 21 a malta ainda faz de conta que os bebes vieram de Paris na cegonha ou que na realidade a dita "actividade" é ilícita e não praticada por aí e quando praticada, além de não dever ser partilhada, deve ser assumida de qualquer jeito...com prazer, sem prazer, com gosto, sem gosto, com dor, sem dor...
Pois vamos lá tratar de acabar com estas lenga-lengas que até a minha enteada que tem 6 anos  já sabe que para não se ter bebés é preciso "tomar uns remédios quando se tem namorado!" (vão aprendendo que ela nem sempre quer ensinar!)

O SEXO ATÉ QUANDO É MAU É BOM!
Fim de linha. Fim de tema. Claro que estamos a falar de sexo consensual, óbvio!
Portanto, se tá mau alguma coisa está mal!!!!
O quê??? A verdade é que a maioria das pessoas nem sabe bem o que é que está mal, só sabe que não tem vontade, que é diferente das outras pessoas, que não gosta, que dói...
Estamos a falar de estudos que revelam que mais de 50% da população portuguesa está insatisfeita com a sua vida sexual. 50%? Cum caraças...é meio povo mal fod...amado!!!
Vou relembrar:
O SEXO ATÉ QUANDO É MAU É BOM!
Tá mau? Então toca de resolver. E resolver é procurar um especialista, não é procurar conselhos no Dr.Google ou tutoriais do youtube! PIOR...os filmes pornográficos! Meu povo é ficar longe desses conselhos que aquilo é tipo "batidos de chocolate que fazem perder 12 quilos numa semana"! Tá claro? Ninguém vai perder 12 quilos, vai perder só 2 e que muito provavelmente são água...

A terapia é destinada a tratar os problemas sexuais. É feita com técnicas específicas, é breve, objectiva e busca sempre resolver os problemas relacionados ao sexo de forma definitiva e no menor tempo possível. O que ocorre são conversas entre o paciente e o especialista durante as quais alguns bloqueios que prejudicam o sexo, vão sendo eliminados. Destinada a homens e mulheres, é possível realizá-la individualmente ou em casal. Não é necessário um parceiro ou uma parceira para a realização do processo. É possível realizá-la individualmente e em ambas as situações são alcançados óptimos resultados, individualmente ou em casal.Dos que procuram o tratamento aproximadamente 100% dos casos são resolvidos, na medida em que o Terapeuta orienta o paciente na solução da queixa em questão.
Alguns exemplos de problemas específicos serão, no homem, disfunções erécteis, ejaculação precoce ou retardada, diminuição do desejo, entre outros; e na mulher anorgasmia (dificuldade ou incapacidade de atingir o orgasmo), vaginismo, dispareunia (dor durante a relação sexual), inibição do desejo, entre muitas outras.
A terapia vai ajudar a separar o sexo da sexualidade individual de cada um.

Simples assim...
E os senhores não precisam de vir a gaguejar e a suar que para mim o assunto já não é novo e as senhoras não precisam de vir obrigadas pela ginecologista ou amparadas pelos maridos.
A sexualidade é algo individual...só o sexo é que é a dois...ou a três...que cada um sabe de si e ninguém tem nada a ver com isso.


PS - e quando pensarem em ter vergonha lembrem-se que ninguém teve vergonha de andar aí a ler as 50 sombras à frente de toda a gente ou a encher bilheteiras para o filme!!! Ora façam-me o favor. Se vos deixa mais à vontade posso recomendar umas palmadas!!!

ESCLAREÇA JÁ TODAS AS DUVIDAS E MARQUE A SUA CONSULTA.
ATÉ JÁ

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Amor à força...

A semana passada, sexta-feira acho eu, durante a hora do almoço e já não me lembro bem do porquê, a Diana (com aquela "suplesse" que só ela tem quando me quer espremer alguma coisa) pergunta-me com ternura:
- Oh Su... tu achas que a mulher que é vitima de violência está no seu perfeito juízo? 
Já me lembro...foi algo que vimos na televisão! 
E eu tentei explicar a minha opinião, como mulher...mas acima de tudo como profissional e lembrei-me que já tinha escrito sobre o assunto e então resolvi resgatar esse texto que a Vânia fez o favor de nos ler em voz alta e que, infelizmente, tantos anos depois, continua actual!!!


A pior sova de todas foi a que levou quando estava grávida de 6 meses.
"O meu ex marido decidiu que queria matar o bebé". Deu-lhe bofetadas, socos e um violento pontapé na barriga. "Voei um corredor inteiro, muito longo e largo, e aterrei em cima de um móvel. Comecei logo a perder sangue.Não me socorreu."

Este é apenas um pedaçinho da história da Antónia mas, a Sábado revela também as torturas de Constança e Carolina.
Não me passou pela cabeça iniciar este blog a falar sobre violência doméstica, mas não posso ignorar aquilo que li e que sei ser a realidade. O artigo fala da violência na alta sociedade, e da forma como ela é ocultada por amigos, familiares e vizinhos, deixando ao abandono as vítimas.
Confesso que o meu estômago se revirou!!!!
Se formos avaliar bem a coisa este artigo levantou um pouquinho do véu acerca daquilo que realmente nos rodeia.
1 em cada 3 mulheres é vitima de violência doméstica. E não, não sou eu a adivinhar, as estatísticas estão aí para quem quiser consultar e é a principal causa de morte na Europa! E eu a pensar que estávamos numa comunidade desenvolvida.

Existem 3 tipos de violência doméstica: a física (mais facilmente avaliada), a Psicológica (a meu ver, a mais grave...muitas vezes provoca dados irreparáveis) e a Verbal (que se avaliarmos a grande maioria dos casais já por lá passaram!!).
E não falemos de modo generalizado da violência que parte do homem, pois não é verdade. Os homens são em grande maioria os responsáveis pela física, mas a verbal e psicológica oferta um Óscar ás mulheres.

Mas vamos lá ver uma coisa.
Avaliar bem lá dentro... Por acaso alguém acha que as vitimas estão em si? Conseguem avaliar aquilo que se está a passar? Estão cientes de tudo o que se passa????
Quantas vezes já eu ouvi "àhhh...aquela volta porque gosta de apanhar, porque se não gostasse ia-se embora". OU NÃO! Dependendo das ameaças a que está sujeita, ou do medo, ou do facto de ser olhada de lado sempre que apresenta as suas nódoas negras...
Enfim! De tudo o que me perturba, aquilo que eu não consigo entender, é como nós somos capazes de virar a cara e achar que não é nada connosco!!!!
Ahhh... "entre marido e mulher ninguém mete a colher"!!!!
Esperemos que essa mulher um dia não seja eu, pois se for eu suplico: AJUDEM-ME!

Entre muitas pacientes que passaram e infelizmente passam pelas minhas mãos com este problema, deixo-vos as palavras que me fizeram entender...

"Era uma discussão, nunca me passou pela cabeça que ele me fosse bater, e quando eu senti as mãos dele no meu corpo a dor já não me deixava pensar. Já nem sei se era dor... Era o meu marido, a pessoa que eu amava, a quem dedicava a minha vida. Os pontapés...o frio do chão...e pensar? O meu mundo acabou ali. Não consegui falar durante 2 semanas e depois deixei de ser eu, fazia tudo o que ele mandava sem conseguir raciocinar...morria de medo! A polícia dizia que não podia fazer nada, gritei tanto por ajuda...como é que ninguém me ouviu? Era um prédio, tinha tanta gente, e eu ali trancada...
Agora vejo...Eu podia, sei lá...ter feito tanta coisa... Mas que me adianta agora nesta cadeira de rodas? Agora já nem para ele sirvo!"

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA É UM CRIME PUBLICO.
DENUNCIEM, SE NÃO PELOS OUTROS, POR VOCÊS MESMAS!!!

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Coisas que eu sinto #4


Ninguém me contou que ser Mãe doía!

Não a gravidez, nem o aleitamento, muito menos o parto...a maternidade, o ser Mãe.

Ninguém me contou desta responsabilidade imensa que não cabe no peito, deste constante despertar preocupado, desta sensação de pés e mãos atadas contra o Mundo...ninguém me disse que doía...e dói...

Dói sempre...Dói de tanto amor, dói de tanto medo...dói só porque dói...

E é a melhor dor do Mundo, porque ninguém a pode sentir tanto quanto eu...


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Logo de manhazinha...


Para quem me conhece não é novidade o valor que eu dou às pequenas coisas, especialmente quando essas pequenas coisas me trazem um inesperado sorriso. Eu gosto de caras alegres, de abraços fáceis, de mimos desconcertantes...
E gosto, mais, ADORO, o novo segurança que está lá no boteco onde eu vivo. Seja a que horas for que a malta passe ele só falta atravessar-se na frente do carro para dar um xauzão e desejar um bom dia. É daqueles momentos que, efectivamente, consegue mudar um estado de espirito menos bom!!!
Não sei se ele é ou não uma pessoa feliz e naturalmente alegre, mas a verdade é que, seja como for, consegue alegrar quem por ele passa.
E faz-me pensar...ele deve gostar do que faz, ou simplesmente está contente com o seu novo trabalho. Apanhei-me a imaginar que se calhar o senhor, já nos seus 50 anos, pode ter demorado algum tempo a encontrar aquele trabalho e estaria a passar alguma dificuldade e logo dei por mim a lembrar-me de quem não dá puto de valor ao que tem e prontamente me apeteceu arrancar-lhe os olhos com uma colher.
Ide trabalhar malandros!!!!

PS-Hoje quando passei de manhã lá estava ele, sorriso rasgado, dentes todos à vista a lançar o seu xauzão como se acenasse para o Mundo inteiro...ainda não sei o nome dele, mas obrigada senhor ilustre desconhecido!